Depósito de Textos

Aqui o impossível se torna realidade...

Esse não é um texto, é um pedido de desculpas à todos nós por eu ter -mais uma vez- esquecido esse cantinho, além de carregar consigo a promessa de que vou mudar minha relação com isso aqui.

"Eu não tenho ido à igreja nos domingos, não tenho dado esmola para os pobres, nem plantei uma árvore.
Não rezei todas as noites, menti algumas vezes e retruquei a minha mãe.
Então por que a vida tem sido tão boa comigo?
Eu realmente não quero saber, só rezo para que eu não acorde."

Eu estava sentada no último banco da praça. Tinha um novelo e remendava com cuidado, de modo que os antigos reparos não ficassem tão evidentes, até que uma sombra me fez levantar a vista e encarar aquele par de olhos sorridentes. E mesmo com muita coisa a remendar, eu sorri de volta.

Ele sentou ao meu lado, tomou meu coração nas mãos e simplesmente disse que poderia consertá-lo. Olhei meu coração meio torto, sangrento, ferido e remendado. Segurei-o junto a mim e disse que talvez outra hora, outro dia, quem sabe... Mas ele ficou ao meu lado e, entre conversas e sorrisos, eu me vi pousando meu velho coração em suas mãos. Ele sorria radiante, pois agora tinha meu coração e poderia trabalhar nele horas à fio.

Apesar de sentir as borboletas no meu estômago reclamarem, eu fechei os olhos e acreditei na veracidade de seu sorriso. Ele levou embora o meu coração, guardou-o numa caixa de madeira e disse que remendos não funcionariam no meu caso, apenas tempo. E isso me pareceu bastante confiável, então comecei a visitar meu coração as sextas por volta das vinte horas. Ele continuava lá, feio, remendado e parecendo um pouco solitário demais. Perguntei se um pouco de ar fresco não ajudaria, e ele colocou meu coração numa gaiola velha, pendurada na varanda. Eu conseguia sentir o pobre coração aterrorizado, mas um pouco menos solitário.

Até que um novo Bug do milênio fez com que eu perdesse o contato com o novo dono –ou tutor- do meu coração por várias semanas.

A saudade daquele velho coração que, apesar de cansado e sofrido, ainda radiava ao meu toque, me acertou em cheio. Juntei minhas antigas armas, aquelas que eu não usava desde a ultima grande batalha, vesti meu melhor vestido e toquei a campainha do dono dos olhos mais sorridentes que eu já vira.

Mas para minha surpresa toda aquela atenção tinha se tornado apenas um frio e simples “olá, como vai?”. Enxuguei minhas lágrimas e atravessei o véu do conforto. Procurei em cada canto daquele conhecido e apertado apartamento. Havia um pedaço perto da pia, outro na varanda, um no quarto... Eu sentia meu velho e pobre coração perder o fôlego cada vez que eu o tocava.

E, no escuro do meu quarto, as minhas lágrimas foram bem mais numerosas que as gotas de chuva na janela, mas então o sol brilho radiantes, zombando da minha dor. Juntei os cacos, minha agulha e novelo e, à beira do mar, iniciei o meu conhecido trabalho de remendo, até que um brilho me cegou.

Levantei meus olhos e a única coisa que vi foi um carretel de linhas douradas cair no meu colo. Do outro lado, um sorriso me olhava. Sorri de volta, sem pretensão ou expectativa, agora eu iria remendar meu coração por conta própria.

Por que, embora fosse um coração feio, torto, sangrento o ferido, ele merecia fios de ouro por ter suportado tanto.

Depósito

Aqui você encontra alguns dos meus textos. Lugar onde sonhos são reais, amores são possiveis e a morte não pode nos deter. Sonhando e fazendo dos sonhos realidade!

Seguidores

Contador de visitas

Contador de visitas

Pesquisar