Depósito de Textos

Aqui o impossível se torna realidade...

"Ninguém percebeu, mas ela carregava um olhar triste.
Não triste daqueles derrotados ou melancólicos, pior:
Aquele triste de quem teve um grande amor destruído."
Essas são só algumas linhas que eu achei por aqui dentro. de mim.
Mas não se preocupem, logo começarei a postar frequentemenete, já que tenho tempo para digitalizar meus textos guardados e motivos para escrever muitos outros.
João Cabral de Melo Neto que me perdoe, mas o sentimento é sim uma das forças motrizes para a produção literária.
Pelo menos para mim, que sou aspirante a qualquer coisa.
:)



Se me perguntassem quem eu sou hoje, eu não saberia
responder. Talvez fosse mais fácil dizer quem eu não queria ser, por que a
resposta seria simples: eu.

É, essa garota que todos machucam por que sabem que ela é
boa demais e vai acabar perdoando tudo. Mais uma vez.



Um velho texto, do fundo do baú.


Ainda lembro-me daqueles dias em que meu pai colocava Tom Jobim e eu sentava no meio da sala e escutava Luiza. Repetia milhares de vezes a mesma musica, até que alguém viesse e reclamasse comigo.

Seguindo os anos, lembro quando aprendi a andar de bicicleta e que o fazia toda vez que queria ser um pouco mais livre. Como uma menina muito presa, sentir o vento forte e poder sair da vista da mãe, mesmo que por alguns minutos, e me perder era fascinante. E ainda continua sendo.

Hoje, quando eu ouço a musica ou abro a janela do carro pra sentir essa sensação mais uma vez, vejo quanto tempo passou, quantas coisas que me eram tão comuns já não fazem parte da minha vida. Algumas vezes eu olho para trás e percebo como escolhas feitas me trouxeram ao que sou hoje e, incrivelmente, não me arrependo de nenhuma.

Só que, até mesmo pela inquietude que trago dentro de mim, nunca conseguiria não me perguntar em como as coisas teriam sido se eu tivesse tomado um rumo diferente. Talvez eu não precisasse ser o tempo todo tão responsável ou tão cuidadosa com as pessoas ao meu redor, mas eu ainda agradeço por ter que amadurecer tão cedo. Poupou-me de muitos erros.

Apesar de ter perdido momentos que eu sei que não voltarão, ter visto muitas pessoas partirem, mesmo sem querer e ter o coração quebrado em milhares de pedaços, eu aprendi que, por mais desesperadora que parecesse a situação, eu sobrevivi. E essa força enorme que eu adquiri com o tempo me fez ser quem eu sou e quem eu serei. Essa coluna vertebral tão bem fixa em mim mesma fez com que, aqueles sonhos de crianças se tornassem tão táteis que nada no mundo vai me tirar de mim. E isso é o que eu mais valorizo. O eu.

Sempre me achei humana demais.Consigo compreender muito bem os vilões quando eles não desistem de seus propósitos e posso até passar uma imagem fria e calculista, mas na verdade eu só tenho uma armadura.

Muitas pessoas têm diferentes conceitos sobre mim. Algumas pensam que eu sou a gostosa. Outras acham que eu quero parecer inteligente. Outras, simplesmente me ignoram porque eu não consigo correr desesperadamente atrás de quem não tem nada de interessante. Da pra ver em seus olhos tudo isso. O pior é que quase nenhuma delas sequer chega perto de quem realmente sou. Nenhuma delas já esteve perto o suficiente para me ver como uma garota fantasiada de cavaleiro medieval. É essa impressão que eu tenho de mim. Talvez seja toda essa armadura que afaste as pessoas, mas às vezes é bom parar e imaginar que, se elas estivessem realmente curiosas de saber quem sou, procurariam mais a fundo.

Esse é o ponto em que você entra. As pessoas estão acostumadas em fazer com que tudo pareça bem mais complicado do que realmente é. Acho que é por isso que as relações dão tão erradas. Se mostrássemos quem somos logo de cara, nosso parceiro não especularia tanto sobre nossos pensamentos e atitudes. Então porque impomos uma distancia tão grande das pessoas que elas mal nos conhecem?

Antigamente, quando as pessoas viviam em pequenas cidades, era fácil conhecer quem morava ao seu lado. As pessoas sabiam mais uma sobre as outras e isso fazia com que convivessem melhor. Eu sou a favor de que voltemos à esse costume tão bom e saber quem está ao seu lado, quem divide com você o colégio, a rua, a calçada. Prefiro muito mais um bom-dia acompanhado de um sorriso do que chegar cedo ao colégio. Tudo o que nós precisamos é humanidade. E, graças aos céus, eu fui infectada com esse vírus.

Mesmo quando a Igreja dizia que ser humana demais era ruim, eu discordava. Pra mim, toda essa sensação a flor da pele só me torna mais perto daqueles que estão ao meu redor. E isso não quer dizer que eu precise me afastar de Deus para chegar mais perto do mundo.

Pra mim, é exatamente o contrario: nos aproxima da divindade, seja ela qual você acredite.

Ela

Ela tem mil facetas e mil jeitos de sorrir,

Tem mil segredos e mil beijos para descobrir,

Uma força imensa guardada dentro de si,

E uma mania horrível de nunca estar aqui.


Ela jura que um dia irá embora,

E levará minh’alma só para se divertir,

Mas eu agradeço pela suposta cola

Que a prende junto à mim,


Ela tem milhares de sonhos,

E se acalenta com cada conto

Que eu custo a construir.


Ela pode ter qualquer um na palma da mão,

Mas prefere alçar vôo com seu coração

Para quem sabe um dia ele caia por mim.





"Desculpem, mas eu não tinha o que postar.

Escrevi esse poeminha- um tipo de ensaio de soneto, olha que pretensão!- hoje.

Não é muito bom, por que eu nunca me arrisquei por esse tipo de terreno.

E eu prefiro me sentir como o Bentinho, de Dom Casmurro, com um simples, único e significativo verso do que passar dias e dias a fio retrabalhando nele.

Não nesse.

É o primeiro, quero que seja imperfeito e tosco. "


Esse não é um texto, é um pedido de desculpas à todos nós por eu ter -mais uma vez- esquecido esse cantinho, além de carregar consigo a promessa de que vou mudar minha relação com isso aqui.

"Eu não tenho ido à igreja nos domingos, não tenho dado esmola para os pobres, nem plantei uma árvore.
Não rezei todas as noites, menti algumas vezes e retruquei a minha mãe.
Então por que a vida tem sido tão boa comigo?
Eu realmente não quero saber, só rezo para que eu não acorde."

Eu estava sentada no último banco da praça. Tinha um novelo e remendava com cuidado, de modo que os antigos reparos não ficassem tão evidentes, até que uma sombra me fez levantar a vista e encarar aquele par de olhos sorridentes. E mesmo com muita coisa a remendar, eu sorri de volta.

Ele sentou ao meu lado, tomou meu coração nas mãos e simplesmente disse que poderia consertá-lo. Olhei meu coração meio torto, sangrento, ferido e remendado. Segurei-o junto a mim e disse que talvez outra hora, outro dia, quem sabe... Mas ele ficou ao meu lado e, entre conversas e sorrisos, eu me vi pousando meu velho coração em suas mãos. Ele sorria radiante, pois agora tinha meu coração e poderia trabalhar nele horas à fio.

Apesar de sentir as borboletas no meu estômago reclamarem, eu fechei os olhos e acreditei na veracidade de seu sorriso. Ele levou embora o meu coração, guardou-o numa caixa de madeira e disse que remendos não funcionariam no meu caso, apenas tempo. E isso me pareceu bastante confiável, então comecei a visitar meu coração as sextas por volta das vinte horas. Ele continuava lá, feio, remendado e parecendo um pouco solitário demais. Perguntei se um pouco de ar fresco não ajudaria, e ele colocou meu coração numa gaiola velha, pendurada na varanda. Eu conseguia sentir o pobre coração aterrorizado, mas um pouco menos solitário.

Até que um novo Bug do milênio fez com que eu perdesse o contato com o novo dono –ou tutor- do meu coração por várias semanas.

A saudade daquele velho coração que, apesar de cansado e sofrido, ainda radiava ao meu toque, me acertou em cheio. Juntei minhas antigas armas, aquelas que eu não usava desde a ultima grande batalha, vesti meu melhor vestido e toquei a campainha do dono dos olhos mais sorridentes que eu já vira.

Mas para minha surpresa toda aquela atenção tinha se tornado apenas um frio e simples “olá, como vai?”. Enxuguei minhas lágrimas e atravessei o véu do conforto. Procurei em cada canto daquele conhecido e apertado apartamento. Havia um pedaço perto da pia, outro na varanda, um no quarto... Eu sentia meu velho e pobre coração perder o fôlego cada vez que eu o tocava.

E, no escuro do meu quarto, as minhas lágrimas foram bem mais numerosas que as gotas de chuva na janela, mas então o sol brilho radiantes, zombando da minha dor. Juntei os cacos, minha agulha e novelo e, à beira do mar, iniciei o meu conhecido trabalho de remendo, até que um brilho me cegou.

Levantei meus olhos e a única coisa que vi foi um carretel de linhas douradas cair no meu colo. Do outro lado, um sorriso me olhava. Sorri de volta, sem pretensão ou expectativa, agora eu iria remendar meu coração por conta própria.

Por que, embora fosse um coração feio, torto, sangrento o ferido, ele merecia fios de ouro por ter suportado tanto.


Tantos casais brigam, rompem, reatam, namoram, rompem, rompem, rompem, reatam, reatam, reatam. Sinceramente, alguém aqui, além de mim, está cansado de tanta baboseira? Ninguém aqui ta cansado de ficar ouvindo “eu não vivo sem você” quando você sabe que, sim, ele vive sem você. E muito bem, obrigada.
Eu estou cansada de promessas de amores eternos, quando não passam de paixões efêmeras.
E eu, que não sou muito de amor, nem de sociedade, nem de brincadeiras fúteis, fico à deriva.
Por que eu não suporto tanto.
Não me venha com frases pré-programadas, briguinhas planejadas, por que eu me canso tão rápido que não consigo manter alguém tão perto de mim por muito tempo.
E, se quer um conselho: deixe-me livre.
Deixe-me sentir saudades suas, agarre-me na frente de quem não deve, diga que eu estou errada e que o que eu faço não vai dar certo.
Não minta pra me agradar.
Converse comigo como se conversasse com seu melhor amigo.
Como se conversasse com você mesmo.
Não dê tantas voltas para falar uma coisa tão pequena, mesmo que seja difícil de pôr em palavras, fale diretamente, eu não sou tão frágil pra não agüentar.
Eu não estou com pressa de você, de amor ou sei lá o quê.
Eu quero tudo devagar, calmo, sem tanta pressão, sem tanto jogo, sem tanta confusão.
Não tente ser aquela pessoa perfeita, eu tenho certeza que ninguém é.
E não se assuste se eu quebrar todos os pré-conceitos que você tem de mim.
Não conte com minhas atitudes sempre.
Saiba ver que, muitas vezes eu fico calada para que você decifre meu olhar.
Nem toda raiva que eu vou ter vai ser de você, mas quando eu tiver, me deixe tê-la só.
E por favor, pelo amor de Deus, não mendigue meu amor.
Não implore para que eu te ame.
Conquiste-me.
E me desculpe se não prometo amor eterno.


Era uma tarde normal de domingo há dez anos e eu tinha saído logo cedo para brincar no parque. Não me lembro muito bem das coisas exatamente que fiz naquele dia, exceto a partir do momento que vi os olhos de mamãe quando cheguei em casa. Estavam vermelhos como sangue. Ela tinha chorado. Muito. A sala estava cheia, alguns parentes distantes, umas tias que eu mal via durante o ano se amontoavam no sofá. Andei, atordoada por entre as pessoas que me olhavam estranho. Talvez eu tivesse feito algo errado. Algo muito errado. Papai iria brigar comigo. Mas onde ele estava que não viu mamãe chorando? Onde ele estava que deixou a tia Márcia sentar na cadeira mais desconfortável?
-Júlia, vem cá, meu amor.
Tia Mary segurou meu braço e me levou para a cozinha. Algumas pessoas estavam ajudando outras a servirem café em pequenas xícaras. Isso era um tipo de reunião? Um tipo de festa de adultos? Mas se era uma festa por que todos estavam tão tristes?
Tia Mary me levou até o quintal e sentamos juntas no banco mais distante, embaixo da figueira. Ela segurou a minha mão e alisou minhas tranças. O que estava acontecendo? Por que as pessoas estavam agindo de maneira tão estranha? Por que todos estavam de preto?
-Julia, querida. Nós precisamos conversar.
Mas antes que ela dissesse alguma coisa contra mim, eu me adiantei, coisa de criança que não quer levar bronca:
-Eu não fiz nada de errado, tia. Eu juro.
Os olhos dela pareceram mais marejados do que antes e ela simplesmente me olhou tristonha.
-Não, filha. Você não fez nada de errado. Papai do céu precisou de mais um anjo lá em cima e resolveu chamar seu pai para junto dele.
E meu mundo tinha desabado. Para uma criança de dez anos, por mais doces que as palavras posam soar, ainda dói muito. Muito mais do que qualquer coisa saber que seu herói foi embora para sempre.
Tia Mary continuou falando mais coisas doces, mas eu não prestei a mínima atenção à elas. Papai tinha ido embora. Papai tinha morrido.
-Por que ele me deixou?
-A voz de tia Mary parecia muito tremula e mais ainda incerta ao me responder:
-Ele não nos deixou. Ele só está lá no céu, ajudando a Jesus.
E então Ela passou os braços por cima dos meus ombros, num abraço confortável. Mas eu não queria o abraço dela. Eu queria meu pai de volta. Eu queria meu pai comigo.
Não falei mais nada, me senti tão mal por ter o deixado ir embora, era como se, em alguma parte eu tivesse sido castigada. Mas no fundo eu sabia que o castigo era grande demais para mim.
Tia Mary me ajudou a vestir um vestido preto, o único que eu tinha, e refez as minhas duas tranças. Mamãe não falou comigo até que eu descesse as escadas, e parasse ao lado dela.
Os cabelos loiros estavam emaranhados, um penteado desgastado. A maquiagem um pouco borrada. Mas o que me chamou atenção foram os sapatos de salto alto: mamãe tinha tirado-os, eles testavam jogados a um canto, perto da cadeira. Mamãe nunca jogava seus sapatos por aí. Agora eles não pareciam ser nada mais que sapatos.
Sentei ao lado dela, que não parava de fungar, de chorar. Eu simplesmente não consegui parar de olhar a foto de papai do outro lado da sala, numa prateleira. Eu estava em seu colo, na praia e mostrava uma estrela do mar. Isso foi há cinco anos, mas me soava como se fosse muito mais longe que isso, quase como em outra vida.
Vi tia Mary sentar do outro lado da sala, conversando baixo com algumas outras pessoas, que eu não me lembro agora quem eram. Fui até lá e fiquei parada ao lado dela, segurando a barra do seu vestido e esperando que olhasse para mim. Ela se virou e abaixou-se, me olhando nos olhos:
-Tia Mary, Deus não tem muitos anjos no céu?
-Ah, querida, claro que tem. Ele tem milhares de anjos no céu.
-A senhora poderia me ajudar a rezar e pedir que Ele devolva meu pai? Ele tem milhares de anjos lá no céu. Eu só tenho um pai.
E mesmo agora, com dezessete anos de idade, eu ainda trato a morte como se fosse aquela garotinha de dez anos, segurando na barra do vestido de Tia Mary:
Apesar de ser aceitável, ainda é incompreensível.

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Aqui você encontra alguns dos meus textos. Lugar onde sonhos são reais, amores são possiveis e a morte não pode nos deter. Sonhando e fazendo dos sonhos realidade!

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