Depósito de Textos

Aqui o impossível se torna realidade...

" Essa foi a primeira história que escrevi, portanto não tem o enredo tão bem trabalhado e alguns errinhos, não reparem , tá?
O título também é meio vago e sem-graça, mas eu ainda era muito inexperiente, está justificado!
Faz bem mais que três anos que a fiz, é de estimação!
Sem mais enrolação...
Essa é a primeira parte, narrada por Lorena.
O texto é longo e dividido em várias partes, com pontos de vista de diferentes personagens, mas eu sempre vou identificar quem está falando, não se preocupem!
Aproveitem! "


Meu anjo, Minha fada

(Lorena)
Caçar não é uma coisa a qual você se acostuma a fazer com prazer nos primeiros anos. Pelo menos ainda me incomodo de largar o corpo gélido e sem vida numa ruela deserta durante a noite de Paris. Mas eu tento ser mais diplomática, digamos assim: Só sugo o sangue de ladrões, assassinos, estripadores... É, eu sou uma vampira. Um pouco deslocada da minha realidade por valorizar muito meu lado humano. O que posso fazer? Eu não posso simplesmente deixar meus sentimentos de lado e tornar-me uma sanguessuga que só sabe caçar. Urgh! Caçar, isso me dá calafrios. Eu tento não lembrar isso, mas é o preço pela imortalidade, pela visão perfeita, pelos reflexos rápidos, pela beleza incomum. Esse é o preço por ter sobrevivido e encontrado a pessoa mais perfeita desse mundo. O meu anjo, meu salvador.
Esse é o ponto crucial que me angustia na caçada: ela me lembra de como eu quase morri. Lembra-me das coisas horríveis que os homens são capazes de fazer. Então, sem mais suspense, irei contar-lhes a triste história de como cheguei até aqui.
Era inverno de 1908, eu tinha dezenove anos. Eu era feliz, vinha de uma família rica, tinha pais que me amavam, uma irmã -Isabella- de dez anos que me idolatrava. Enfim, era uma das garotas mais inteligente e bonita da cidade, tinha tudo para ter uma vida perfeita e eu agradecia à Deus todos os dias.
Até que ele chegou à cidade. No principio, eu não olhava muito para o advogado do meu pai, mas durante as noites que ele jantava em minha casa, fui percebendo que era um homem inteligente, bonito e atraente. Não nutri minhas fantasias com ele, pois sabia que as intenções de meu pai era casar-me com alguém rico o bastante para assim garantir meu conforto. Eu não pensava assim, eu imaginara apenas ser feliz, sem me importar de com quem fosse. Ao passar dos dias, Vinícius chamava cada vez mais minha atenção, conversávamos horas a fio sobre livros, lugares distantes e idéias revolucionárias das quais meu pai não gostava nada. Tínhamos uma incrível afinidade e isso foi chamando a atenção das pessoas na cidade, que logo começaram a espalhar boatos. Passávamos as tardes conversando nos jardins da minha casa e tudo estava tão bem. Íamos às festas juntos, passeávamos pelas ruas da cidade, estávamos tão felizes juntos...
Num final tarde de dezembro, quando a neve fazia tremer o queixo que qualquer um que se aventurasse à rua, Vinícius e eu sentamo-nos no balanço da varanda de casa e ele declarou-se para mim. Foi a coisa mais linda que eu vi na vida: tinha uma rosa vermelha na mão e estava ruborizado! Ele perguntou se eu o amava. Meus olhos encheram-se de lágrimas e eu acenei com a cabeça, ele deu o mais lindo sorriso e beijou-me a mão. Éramos namorados, então.
Passaram-se duas semanas desde este acontecido, quando veio o caos.
Eu me encontrava sentada na varanda em frente a casa esperando Vinícius para comentar sobre o novo livro que tinha lido, quando o carro do meu pai cruzou o portão de entrada do jardim. Eu prontamente estranhei tal fato, meu pai sempre chegara por volta das nove horas, não tinha como ele estar ali às cinco da tarde, algo estava errado. Ele estacionou o carro na frente de casa e veio marchando até mim. Parou na minha frente e eu vi que estava vermelho de cólera. Senti muito medo do que ele possa ter feito. Ele respirou fundo e entrou em casa, eu sabia que deveria segui-lo. Sabia que o problema era comigo. Entrei respirando fundo e temendo que algo tivesse acontecido com Vinícius. Sentei-me no sofá e ele começou a andar de um lado para o outro. A agitação trouxe minha mãe e irmã para a sala, as elas estavam amuadas à um canto. Eu nunca tinha visto meu pai daquele jeito, eu começava a suar frio.
Então, num movimento brusco, ele parou na minha frente, me olhou com os olhos ardendo de raiva e começou a falar coisas que não se fala para uma filha. Disseram-lhe que eu iria fugir com Vinícius, que eu já não tinha pudor a que se desse respeito. Ele conseguiu me humilhar mais do qualquer coisa pessoa poderia fazer, mas quando uma facada dessas vem do seu pai, você se desarma, perde suas defesas e não há nada o que fazer, porque você ama tanto aquela pessoa que nunca teria a coragem de magoá-la. Foi o que eu fiz, escutei tudo num silencio humilhante, com lágrimas escorrendo pelo meu rosto vermelho e um nó irreparável na garganta. Eu me calei e ele me machucou até não poder mais. Mas eu não merecia isso, eu não havia feito nada para que ele agisse dessa forma. Alguma coisa dentro de mim não estava certa. Por que eu tinha que ouvir aquilo? Olhei para cima, ele ainda falava sobre eu ter perdido minha vida, meu futuro, e calou-se quando eu o olhei. Ainda lembro-me vivamente dessa cena. Eu levantei e encarei-o de frente. Isso era uma coisa a qual garotas daquela época nunca faziam. Enxuguei minhas lágrimas e aquela voz ainda ressoava na minha cabeça “eu não tenho culpa de nada, eu não fiz nada”
- O senhor realmente acredita que eu fiz tudo isso? Se verdadeiramente conhecesse-me, não acreditaria em asneiras alheias. Eu poderia muito bem fazê-lo, porém não fiz, mas se queres apenas uma desculpa me negar como filha, estou à disposição. Quer renegar-me? Faça-o agora sem que haja uma desculpa qualquer na qual o senhor se encoberte. Crie coragem apenas neste último ato. Fale-me com todas as palavras e não serás mais meu pai. Já basta de agüentar uma humilhação pelo que não cometi, já basta ser ferida por alguém que eu pensara que sempre defender-me-ia. Por favor, suplico-lhe, acabe logo com isso.
- Se é isto que a senhorita deseja... Não és mais minha filha, renego-te.
Minha mãe caiu-se de joelhos na sala, minha irmã agarrou-me a barra da saia e eu me meu pai apenas nos encaramos. Uma última lágrima escorreu do meu rosto e eu a limpei com asco. Tentei falar algo, mas só abri minha boca em vão. Balancei meu rosto e soltei a mão de Isabella que me segurava a saia. Não olhei para trás, sai para a noite.
Sem ter onde ficar, vaguei as ruas de Paris que jaziam desertas até sentar-me no chão de uma praça escura. Agora eu conseguia chorar. Meu peito doía, tremia de frio, mas não podia voltar para casa. Não havia mais casa, eu estava sozinha agora e era uma renegada. Encostei minha cabeça na calçada fria e chorei mais ainda.
A lua começava a se esconder por entre as nuvens. O céu estava mais escuro do que eu um dia vira e eu ainda chorava. Foi quando aconteceu.
Três homens vinham andando no final da rua. Tinham garrafas de bebidas e vestiam-se com ternos bem cortados. Pareciam homens da alta sociedade, mas o estado que se encontravam dizia o contrário. Eles andavam cantarolando alguma canção de bordel e dançavam com o vento. Não conseguia ver-lhes a face pelos olhos manchados de lágrimas. Eles se aproximavam cada vez mais de onde eu estava, mas eu era tão inocente... não tive medo, continuei com meu pranto solitário. Os homens estavam passando direto, quando um deles olhou para o chão e me identificou em meio à neve e ao emaranhado do meu vestido alvo. Ele se curvou ao meu lado. Ah, ainda lembro seu cheiro! Cheirava à bebida e perfume vagabundo, misturado a um fino traço de perfume másculo de qualidade. Ele tocou-me a face e chamou os outros dois, que se amontoaram ao meu redor. Eu levantei a cabeça.
O que me tinha tocado falou, numa voz embaraçada pela bebida:
-Vejamos, ela está viva! Oh, olhem bem, cavalheiros: esteve chorando. Perdeu-se da mamãe? Senhoritas de honra não andam por aí há essas horas! A não ser que queiram perder sua honra.
Então ele passou o gargalo da garrafa em meu decote. Os dois homens sorriram, alucinados. Eu não conseguia responder nada, o frio cortava-me a garganta. Ele encostou a garrafa no parapeito e colocou as mãos imundas na minha cintura. Eu não tinha forças para reagir, mas minhas mãos ainda tentaram tapas em seus braços fortes. Ele segurou-me os cabelos e começou a beijar-me a boca. Era asqueroso, erótico, e os outros homens apenas observavam, imundos porcos rindo de mim. O homem que beijava-me soltou meu rosto por um instante e eu pude cuspir-lhe a face. Ele estrondou numa risada irônica:
-Vagabunda! Vais pagar por seres tão atrevida.
Então ele começou a bater em mim. Pontapés, socos, chutes... a cada batida, diminuía um pouco da dor em meu coração, era como se a dor física acalmasse a dor sentimental. Eles rasgaram meu vestido, bateram minha cabeça no chão, esmurraram-me os seios, as pernas, onde podiam. Chutaram-me o abdômen. Ouvi os estalos de minhas costelas. Urrei de dor. Pisaram em cima do meu útero. Eu sentia o sangue se acumulando dentro de mim. Eles bateram minha cabeça mais uma vez no chão. Não conseguia mais abrir a minha boca e gritar. Eu sentia o gosto do sangue inundando a minha boca, mas eu não conseguia cuspi-lo. Encheu minha boca, descia pela garganta. Não conseguia respirar. Os pulmões começaram a arder.
Eu quis sorrir. Talvez estivesse finalmente morrendo. Mas eles não deixariam por tão pouco. Alguém me deu uma tapa no rosto. Escutei mais um estalo e o sangue conseguiu sair da minha boca. Quis tossir, mas sabia que doeria mais nos meus pulmões. Tudo doía. Até viver doía. Quando se pede com toda sua alma para morrer, Deus te escuta. Mas ninguém entende mesmo o que Ele faz, então a única coisa que eu podia fazer era pedir com todas as minhas forças. Deus parecia não me escutar, por que eu ainda sentia dor, ainda respirava, mas eu pedia cada vez com mais intensidade para que Ele me deixasse morrer logo.
E num segundo, tudo pareceu mudar. Eu senti o vento frio da noite tocar minha pele e com ele veio o aroma. O aroma que me entorpeceu e fez minha cabeça girar. Era um perfume diferente de todos que eu havia sentido na vida. Uma mistura de masculinidade com leveza. Insuportavelmente acolhedor. Confesso-lhes: não consigo descrever a sensação nem o cheiro dele. Abri os olhos. Vi apenas o borrão vermelho do sangue. Pisquei e consegui distinguir formas. Os três homens que me espancavam estavam no meio da rua. Havia mais um estranho perto deles, o qual só conseguia distinguir a silhueta. Rezei para que não fosse mais um malvado e sim um anjo que viesse me levar. Pedi com as forças que ainda me restavam. Vi um clarão. Eu sentia uma emoção, talvez até alívio por ter alguém ali. É, acho que ainda tinha vontade de viver. Fechei meus olhos. Se não houvesse um salvador que me tirasse dali, havia um herói que me mataria. Eu estaria ganhando de qualquer modo. Escutei, sem o mínimo de compaixão, o grito dos homens. Era o sinal de que havia um salvador. Tive até vontade de sorrir. A promessa de justiça te faz querer viver quando se está numa situação difícil. O aroma encheu-me os pulmões mais uma vez e a última coisa que senti antes de desmaiar fora seu toque acariciando-me enquanto me carregava pelas ruas de Paris.

1 comentários:

Lol!!! xD
Comecei a ler agora, e fiquei impressionado. Você era uma amadora, né? Como você tinha falado, tem um ou outro erro sim, mas é bem sutil. O texto em si está mesmo muito bom ^^
Tem partes assim que eu não peguei na hora, mas acho que foi por falta de atenção. Ahauahauhaauh
Concluindo, está tudo muito bom mesmo! Se esse foi escrito por uma amadora, imagina uma profissional! O.o
Beijos!

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Aqui você encontra alguns dos meus textos. Lugar onde sonhos são reais, amores são possiveis e a morte não pode nos deter. Sonhando e fazendo dos sonhos realidade!

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