Depósito de Textos

Aqui o impossível se torna realidade...


Só para deixar com gostinho de queero mais:
Essa é a atriz que eu achei mais parecida com Lorena,mas isso não é tudo, estou preparando uma Surpresa!
O que vai justificar meu desleixo com a continuação da história.

Lucius
Mirei-lhe, fascinado. Seus incríveis olhos fitavam-me com curiosidade intensa. Aproximei-me mais dela, senti seu perfume perfeitamente adocicado. Atrevi-me a tocar-lhe a face, gesto que resultou no avermelhamento de suas maçãs. Ela sorriu. O sorriso mais perfeito do mundo: meu sorriso preferido. Eu podia sentir o calor do seu corpo, seu coração batendo descompassado e alto demais, sua respiração forte. Ela estava viva, ela estava comigo. Ainda estava imerso em seus olhos quando dei-me conta que nossos rostos estavam perto o suficiente para se tocar ao mínimo movimento. Desci-lhe a mão até a cintura, ela envolveu seus braços em meu pescoço como era bom sentir seu toque macio, delicado, quente. Encostamos nossas testas e olhamos um dentro da alma do outro pelos nossos olhos. Era tudo maravilhosamente perfeito. Eu a tinha em meus braços, ela tocava-me, desvendando meus sentimentos. Eu passeava minha mão pela face de anjo, até que senti o inesperado. Nossos lábios roçaram-se por uma fração de segundo, mas isto fez com que uma bomba de felicidade explodisse dentro de mim.
Choque. Emoção. Felicidade.
Prendemos a respiração. Eu a amava, essa era a resposta para tudo. Eu estaria disposto a enfrentar o céu, o inferno para tê-la exatamente onde estava.
Ela fechou os olhos lentamente, minha luz indo embora com o azul destes. Eu não podia viver sem alguma parte dela, então tomei seus lábios nos meus.
Ternura. Felicidade. Amor.
Seus lábios aceitaram os meus como presente. Os meus? Não há palavras suficientemente doces para explicar o que senti. Ao tocar-lhe os lábios, meu coração voltou a bater, minha alma restaurou-se, meu ser reviveu-se. Parei de existir e comecei a viver. Parecia que meu coração, há muito descansando, pulava ritmado com um som diferente. O som do amor. Era como se neste beijo, eu tivesse absorvido um milésimo de sua alma, mas isso me bastou para ser feliz.
Ninguém poderia sequer imaginar a felicidade que consumiu meu ser. Suas mãos trêmulas ainda passeavam pelo meu rosto e eu as senti mais claramente. Sue calor me estremeceu. Ela era a perfeição, ela estava em meus braços.
Nossos lábios se desvencilharam e abri meus olhos à procura dos seus. Ela estava mais perfeita que antes, ainda com os olhos fechados. Uma lágrima escorreu pela sua face e iluminou o sorriso. Ela aproximou-se mais de mim e virou o rosto para a direção oposta, oferecendo-me seu pescoço. Eu sabia o que deveria fazer e ela certamente estava certa deste ato. Eu pensei por um segundo. Se eu a transformasse, ela estaria preservada para todo o sempre. Eu poderia admirá-la todos os dias e todas as noites exatamente como ela era. Inspirei seu aroma doce. Senti o cheiro do seu sangue em mim. Aproximei-me dela, enquanto era hipnotizado pelo fato de sentir o sabor de seu sangue. Ela envolveu seus braços em mim. Era tão primoroso estar com ela em mim. Minha boca parou na base de sua garganta. A pele quente. O aroma doce. Minha Deusa, Minha Vênus. Para sempre minha. Encravei meus dentes na pele perfeita. Ela me abraçou mais apertado, mas não disse nada. O sangue dela fez meu mundo girar. O melhor dos sangues, ela era tão perfeita. Suguei-lhe um pouco da alma, das lembranças. Lembrei-me do sorriso puro, da alma cheia de amor. Lembrei-me dos seus cabelos, da sua pele, dos seus olhos.
Quando senti que a quantidade do meu veneno era a suficiente para transformá-la, retirei meus dentes com cuidado de seu pescoço. Ela estava desacordada, como todos ficavam. Deitei-me na cama e coloquei-a ao meu lado, com a cabeça sobre meu peito. Era uma das melhores sensações do mundo.
E eu a esperei despertar. Eu não conseguiria viver sem ela. Depois que a vi, ela fez meu coração bater novamente, regenerou minha alma e quando a olhei nos olhos, descobri o sentido da vida: o amor. Droga! Vilões não amam! Mas quem se importa? A única coisa com a qual eu quero me importar é a fada dos olhos azuis que agora dorme em meus braços, mas que em breve despertará para que nós sejamos felizes eternamente.


*Comentário!
Esse é originalmente o último capitulo de Meu Anjo, Minha Fada, mas tenho na mente a continuação da história.
Ainda está tudo muito no inicio, mas prometo que postarei aqui os acontecimentos posteriores à transformação de Lorena, com outro título e tudo mais para que não haja enganos!
Não posso falar mais nada, senão estaria dando Spoilers, e eu sei que vocês não gostariam nada disso!
:D
Luísa Cedrim*

Lorena
Água. Um oceano profundo e refrescante era o que eu sentia enquanto estava desacordada. Sentia a água passeando pelos meus dedos, as ondulações, a calma. Eu poderia ficar aqui para sempre se me prometessem tirar aquela dor de mim. Talvez eu já estivesse morta. Explicaria aquele anjo me levando na noite passada. Não, talvez fosse á dias atrás, não tenho certeza do tempo que estou aqui. Minutos, horas, dias, semanas. Quem se importa? Eu estava feliz, era tudo o que eu precisava, não queria sair dali.
Tudo estava calmo até que uma ondulação me tirou do eixo. Agora eu podia escutar vozes ao longe, eram gritos de alguém. Outra onda bateu em mim e eu afoguei. As vozes estavam cada vez mais fortes e machucavam meus ouvidos. Eu afundava na escuridão cada vez mais, mas não abria os olhos, era como se eu não lembrasse de fazê-lo. Eu sabia que estava perto de encontrar o fundo da piscina e eu nadava para a superfície, mas algo me puxava para baixo. As vozes eram altas demais na minha cabeça e eu tentei proteger meus ouvidos, mas só pareciam aumentar. Duas mãos quentes me seguraram nos ombros e me puxaram mais para baixo. Encontrei o fundo.
Abri meus olhos e lá estava ele na minha frente com as mãos nos meus ombros. O seu rosto parecia desesperado e aliviou-se um pouco quando eu o foquei.
O meu anjo, meu salvador.
Era a criatura mais bela que eu já tinha visto. Com os cabelos grandes e escuros escorridos sobre a face e olhos negros como carvão, ele fitava-me. Sua pele incrivelmente branca contrastava com o vermelho dos seus lábios bem desenhados. Senti o aroma que exalava sua pele. Ele embriagou-me mais uma vez, mas agora eu não queria me entregar, queria ficar lúcida para vê-lo. Quase podia flutuar. Ele transpassava segurança, conforto. Era tudo o que eu precisava. Tentei sorrir e ele me surpreendeu com o mais belo sorriso do mundo. Uma fileira de dentes bancos se mostrou perfeito enquanto seus olhos deixavam transparecer alívio, talvez até alegria. Ele aproximou-se de mim e eu senti que seu corpo não era quente como eu imaginara, mas frio como gelo. Isso acalmou-me um pouco, mas quando ele aproximou-se mais ainda, ficando a centímetros de mim, meu coração disparou. Sentei-me na cama, ele ainda estava perto demais e eu, pela primeira vez, amei estar ali. Viva ou não, era o paraíso.

(Lucius)
Eu tinha prometido a mim mesmo: nunca mais tente bancar o herói e intrometer-se nos assuntos alheios. Não cumpro com minhas promessas á um bom tempo...
Passeava pelas ruas de Paris, esperando o sol nascer para voltar, quando vi três homens bêbados debruçados sobre algo na calçada. Talvez fosse um animal morto, já que chutavam e esmurravam. Uma incrível curiosidade me fez aproximar-me e constatar que não se tratava de um animal, mas de uma garota. Admito que não consegui vê-la ser espancada e deixar que os malfeitores se livrassem. Chamei-os. Eles se viraram como cães obedientes, mas não tinha o que dizer, somente precisava agir.
Saltei em cima do primeiro, arranquei-lhe os dois braços de uma vez. E esmurrei-lhe a face, quebrando a mandíbula. Larguei-o na rua enquanto seguia atrás do outro que corria e gritava desesperado. Chutei-lhe a cabeça para longe. Ela caiu dez metros longe do corpo que ainda se contraía. E terceiro estava imóvel, assistindo o show. Aproximei-me dele devagar. Ele olhou para mim com pavor. Eu sorri. Não me privem deste deboche! O corpo sem braços do seu companheiro ainda murmurava algo. Estiquei minha perna e amassei-lhe o tórax. O murmurinho passou. O ultimo homem quase não respirava, apenas me fitava com seus olhos incrivelmente grandes de pavor. Estendi minha mão até seu pescoço, levantei-o no ar. Ele olhava desesperado para mim, mas não conseguia dizer nada. Joguei-o no chão e ouvi os ossos serem quebrados.
Finalmente os três corpos jaziam calmos. Andei na direção da garota. Estava tão machucada que podia se localizar nitidamente onde não havia marcas. Os cabelos ruivos estavam espalhados pela neve suja e fria e a pele branca, manchada de vermelho e roxo. O vestido rasgado, mostrando-lhe as pernas bem torneadas. Os olhos fechados, quase como se estivesse dormindo. A boca vermelha do sangue, ainda tinha um mínimo esboço de sorriso. Segurei a pequena criatura nos meus braços enquanto a levava para um lugar seguro. Um lugar que talvez eu pudesse cuidar dela e ampará-la até que estivesse sadia o suficiente para decidir o que fazer de sua vida.
Ás vezes penso que o destino nos prega peças muito estranhas. Não sabia o quanto essa garota ainda tinha a me oferecer
Corri pela noite fria levando comigo a garota que parecia dormir. Tive medo que estivesse morrendo, mas ouvia seu coração bater, ainda que lentamente. Quando cheguei ao castelo, levei-a direto para o quarto de hóspedes. A pequena moça não tinha a mínima chance de sobreviver se eu não interferisse de um algum modo sobrenatural. Ela não falava nada, mas eu sabia que, se pudesse gritaria de tanta dor.
Eu era sua única salvação. Levei meu pulso à boca e rasguei-o sem a mínima piedade, estava inteiramente concentrado nela. Antes que cicatrizasse, derramei sangue em sua boca, mas ela não fez um só movimento. Seu peito mal se movia com a respiração fraca. Sentei-me na poltrona ao lado da cama, esperando alguma reação, mas a garota parecia não se mover. Se meu coração batesse, estaria rápido. Meus músculos estavam tensos enquanto eu esperava alguma reação dela. Nada. Levantei-me e comecei a andar pelo quarto, estava impaciente. Olhei para a garota mais uma vez, não havia mudado nada, ela ainda tinha a respiração fraca e os ferimentos cobrindo-lhe o corpo.
Deixei minha cabeça cair entre as mãos. Será que eu não podia sequer salvar uma garota? Ora, pelo menos uma boa-ação! Pelo menos algo bom! Eu pedia, não sei por que, para que aquela garota sobrevivesse. Eu não sabia nada sobre ela, se tinha família, se era casada, se tinha filhos... Nem seu nome eu sabia, mas eu pedia incessantemente pela sua vida.
Então eu ouvi. O coração dela estava tão baixo que quase não se percebia, mesmo sendo um vampiro. Ele batia lentamente e, não sei se ouvi mal ou algo do tipo, mas por um segundo ou dois, ele parou. Gelei por dentro. A garota tinha morrido? Não poderia ser, não havia como!
Ela não poderia morrer, eu tinha dado meu sangue! Eu só estava pedindo uma coisa, será que não poderia acontecer? Passaram-se alguns segundos de angustia, mas para minha felicidade, voltei a escutar a batida ritmada em seu peito. Dei um pulo da cadeira e em menos de meio segundo, já estava em pé ao lado da cama. Surpreendi-me quando vi a sua face. Estava completamente regenerada. Pude contemplar sua beleza. Ela abriu os olhos. Os olhos mais tristes que eu tinha visto até então. Mas, além da tristeza, vi por uma fração de segundo, sua alma e isso bastou para encantar-me. Uma alma que não contentava em irradiar através de sua pele, de sua respiração, mas brilhava através do azul de seus olhos. E, ao mergulhar neste oceano, pude ver o óbvio que não tinha notado: dentro de sua alma não havia somente compaixão, humildade, bondade, mas havia também amor. Olhos tristes amorosos. Pela primeira vez eu quis ver alguém feliz. Como ficariam estes olhos com um brilho de alegria? E sua pele extremamente branca? Ah, aquela pele! A mais fina seda do mundo sentir-se-ia ultrajada em presença desta maravilha. Sedosa, alva, límpida e jovem. Frágil como vidro, doce como mel. Era um convite ao pecado. O modo como a luz da fraca vela refletia nela, era como se milhares de pontos de luz estivessem por baixo de sua pele. Inspirei seu doce aroma quando o vento bateu em seus cabelos ruivos, longos, brilhantes fazendo-os dançar com tanta graça que pareciam ensaiados. Como ela era fascinante! De todos os modos que a via, não encontrava algum defeito. Um instinto protetor me fez quere tomá-la nos braços, niná-la até que as fadas dançassem em seus sonhos, mas não podia. Ela era perfeita demais para eu sequer tocá-la. Desejei mais que tocá-la. Desejei tomar seus lábios num beijo doce.
Era pelo que eu havia esperado durante os anos que vaguei pela terra. Descobri o significado de minha vil existência. Deus sabia que, após eu ver aqueles olhos, aquela criatura e não poder tocá-la faria com que eu sofresse milhares de vezes mais. Pela primeira vez, odiei o monstro que havia dentro de mim. Odiei o ódio em meu coração. Odiei o peso, agora insuportável, da maldade sobre meus ombros. Um nó veio-me á garganta. Eu tinha repulsa pelo que eu era, pela minha impureza. Fechei meus punhos até ficarem dormentes. Desejava poder rasgar a pele que cobria a minha alma, se esta existia ainda. Desejei ser puro o suficiente para ao menos tocá-la. Como desejei! Eu tinha que me conscientizar que ela era apenas um sonho distante, um devaneio. Tudo que eu sempre desejara estava na minha frente e eu não podia ao menos tocar. Uma sensação estranha tomou conta dos meus olhos, era como se estivessem queimando, algo do tipo. Minha visão tornou-se turva. No auge de minha tristeza e confusão, minha visão clareou-se e uma gota escorreu pela minha face. Olhei para cima, procurando de onde viera esta gota, mas o teto estava branco, normal. Num lampejo, dei-me conta que aquela lágrima saíra dos meus próprios olhos. A felicidade inundou meu ser. Se eu havia chorado, conseqüentemente haveria uma alma dentro de mim. Mesmo que fosse um rastro de alma, ainda havia uma e isso me dava esperanças de um dia ser bom o suficiente para tocá-la, talvez até beijá-la. Sorri e olhei em seus olhos mais uma vez. Estavam abertos, fixos em mim. Vi seus lábios se movimentarem e esboçar um sorriso, então seus olhos fecharam-se e ela adormeceu. Mas ela havia sorrido, então dentro de mim havia uma festa.

" Essa foi a primeira história que escrevi, portanto não tem o enredo tão bem trabalhado e alguns errinhos, não reparem , tá?
O título também é meio vago e sem-graça, mas eu ainda era muito inexperiente, está justificado!
Faz bem mais que três anos que a fiz, é de estimação!
Sem mais enrolação...
Essa é a primeira parte, narrada por Lorena.
O texto é longo e dividido em várias partes, com pontos de vista de diferentes personagens, mas eu sempre vou identificar quem está falando, não se preocupem!
Aproveitem! "


Meu anjo, Minha fada

(Lorena)
Caçar não é uma coisa a qual você se acostuma a fazer com prazer nos primeiros anos. Pelo menos ainda me incomodo de largar o corpo gélido e sem vida numa ruela deserta durante a noite de Paris. Mas eu tento ser mais diplomática, digamos assim: Só sugo o sangue de ladrões, assassinos, estripadores... É, eu sou uma vampira. Um pouco deslocada da minha realidade por valorizar muito meu lado humano. O que posso fazer? Eu não posso simplesmente deixar meus sentimentos de lado e tornar-me uma sanguessuga que só sabe caçar. Urgh! Caçar, isso me dá calafrios. Eu tento não lembrar isso, mas é o preço pela imortalidade, pela visão perfeita, pelos reflexos rápidos, pela beleza incomum. Esse é o preço por ter sobrevivido e encontrado a pessoa mais perfeita desse mundo. O meu anjo, meu salvador.
Esse é o ponto crucial que me angustia na caçada: ela me lembra de como eu quase morri. Lembra-me das coisas horríveis que os homens são capazes de fazer. Então, sem mais suspense, irei contar-lhes a triste história de como cheguei até aqui.
Era inverno de 1908, eu tinha dezenove anos. Eu era feliz, vinha de uma família rica, tinha pais que me amavam, uma irmã -Isabella- de dez anos que me idolatrava. Enfim, era uma das garotas mais inteligente e bonita da cidade, tinha tudo para ter uma vida perfeita e eu agradecia à Deus todos os dias.
Até que ele chegou à cidade. No principio, eu não olhava muito para o advogado do meu pai, mas durante as noites que ele jantava em minha casa, fui percebendo que era um homem inteligente, bonito e atraente. Não nutri minhas fantasias com ele, pois sabia que as intenções de meu pai era casar-me com alguém rico o bastante para assim garantir meu conforto. Eu não pensava assim, eu imaginara apenas ser feliz, sem me importar de com quem fosse. Ao passar dos dias, Vinícius chamava cada vez mais minha atenção, conversávamos horas a fio sobre livros, lugares distantes e idéias revolucionárias das quais meu pai não gostava nada. Tínhamos uma incrível afinidade e isso foi chamando a atenção das pessoas na cidade, que logo começaram a espalhar boatos. Passávamos as tardes conversando nos jardins da minha casa e tudo estava tão bem. Íamos às festas juntos, passeávamos pelas ruas da cidade, estávamos tão felizes juntos...
Num final tarde de dezembro, quando a neve fazia tremer o queixo que qualquer um que se aventurasse à rua, Vinícius e eu sentamo-nos no balanço da varanda de casa e ele declarou-se para mim. Foi a coisa mais linda que eu vi na vida: tinha uma rosa vermelha na mão e estava ruborizado! Ele perguntou se eu o amava. Meus olhos encheram-se de lágrimas e eu acenei com a cabeça, ele deu o mais lindo sorriso e beijou-me a mão. Éramos namorados, então.
Passaram-se duas semanas desde este acontecido, quando veio o caos.
Eu me encontrava sentada na varanda em frente a casa esperando Vinícius para comentar sobre o novo livro que tinha lido, quando o carro do meu pai cruzou o portão de entrada do jardim. Eu prontamente estranhei tal fato, meu pai sempre chegara por volta das nove horas, não tinha como ele estar ali às cinco da tarde, algo estava errado. Ele estacionou o carro na frente de casa e veio marchando até mim. Parou na minha frente e eu vi que estava vermelho de cólera. Senti muito medo do que ele possa ter feito. Ele respirou fundo e entrou em casa, eu sabia que deveria segui-lo. Sabia que o problema era comigo. Entrei respirando fundo e temendo que algo tivesse acontecido com Vinícius. Sentei-me no sofá e ele começou a andar de um lado para o outro. A agitação trouxe minha mãe e irmã para a sala, as elas estavam amuadas à um canto. Eu nunca tinha visto meu pai daquele jeito, eu começava a suar frio.
Então, num movimento brusco, ele parou na minha frente, me olhou com os olhos ardendo de raiva e começou a falar coisas que não se fala para uma filha. Disseram-lhe que eu iria fugir com Vinícius, que eu já não tinha pudor a que se desse respeito. Ele conseguiu me humilhar mais do qualquer coisa pessoa poderia fazer, mas quando uma facada dessas vem do seu pai, você se desarma, perde suas defesas e não há nada o que fazer, porque você ama tanto aquela pessoa que nunca teria a coragem de magoá-la. Foi o que eu fiz, escutei tudo num silencio humilhante, com lágrimas escorrendo pelo meu rosto vermelho e um nó irreparável na garganta. Eu me calei e ele me machucou até não poder mais. Mas eu não merecia isso, eu não havia feito nada para que ele agisse dessa forma. Alguma coisa dentro de mim não estava certa. Por que eu tinha que ouvir aquilo? Olhei para cima, ele ainda falava sobre eu ter perdido minha vida, meu futuro, e calou-se quando eu o olhei. Ainda lembro-me vivamente dessa cena. Eu levantei e encarei-o de frente. Isso era uma coisa a qual garotas daquela época nunca faziam. Enxuguei minhas lágrimas e aquela voz ainda ressoava na minha cabeça “eu não tenho culpa de nada, eu não fiz nada”
- O senhor realmente acredita que eu fiz tudo isso? Se verdadeiramente conhecesse-me, não acreditaria em asneiras alheias. Eu poderia muito bem fazê-lo, porém não fiz, mas se queres apenas uma desculpa me negar como filha, estou à disposição. Quer renegar-me? Faça-o agora sem que haja uma desculpa qualquer na qual o senhor se encoberte. Crie coragem apenas neste último ato. Fale-me com todas as palavras e não serás mais meu pai. Já basta de agüentar uma humilhação pelo que não cometi, já basta ser ferida por alguém que eu pensara que sempre defender-me-ia. Por favor, suplico-lhe, acabe logo com isso.
- Se é isto que a senhorita deseja... Não és mais minha filha, renego-te.
Minha mãe caiu-se de joelhos na sala, minha irmã agarrou-me a barra da saia e eu me meu pai apenas nos encaramos. Uma última lágrima escorreu do meu rosto e eu a limpei com asco. Tentei falar algo, mas só abri minha boca em vão. Balancei meu rosto e soltei a mão de Isabella que me segurava a saia. Não olhei para trás, sai para a noite.
Sem ter onde ficar, vaguei as ruas de Paris que jaziam desertas até sentar-me no chão de uma praça escura. Agora eu conseguia chorar. Meu peito doía, tremia de frio, mas não podia voltar para casa. Não havia mais casa, eu estava sozinha agora e era uma renegada. Encostei minha cabeça na calçada fria e chorei mais ainda.
A lua começava a se esconder por entre as nuvens. O céu estava mais escuro do que eu um dia vira e eu ainda chorava. Foi quando aconteceu.
Três homens vinham andando no final da rua. Tinham garrafas de bebidas e vestiam-se com ternos bem cortados. Pareciam homens da alta sociedade, mas o estado que se encontravam dizia o contrário. Eles andavam cantarolando alguma canção de bordel e dançavam com o vento. Não conseguia ver-lhes a face pelos olhos manchados de lágrimas. Eles se aproximavam cada vez mais de onde eu estava, mas eu era tão inocente... não tive medo, continuei com meu pranto solitário. Os homens estavam passando direto, quando um deles olhou para o chão e me identificou em meio à neve e ao emaranhado do meu vestido alvo. Ele se curvou ao meu lado. Ah, ainda lembro seu cheiro! Cheirava à bebida e perfume vagabundo, misturado a um fino traço de perfume másculo de qualidade. Ele tocou-me a face e chamou os outros dois, que se amontoaram ao meu redor. Eu levantei a cabeça.
O que me tinha tocado falou, numa voz embaraçada pela bebida:
-Vejamos, ela está viva! Oh, olhem bem, cavalheiros: esteve chorando. Perdeu-se da mamãe? Senhoritas de honra não andam por aí há essas horas! A não ser que queiram perder sua honra.
Então ele passou o gargalo da garrafa em meu decote. Os dois homens sorriram, alucinados. Eu não conseguia responder nada, o frio cortava-me a garganta. Ele encostou a garrafa no parapeito e colocou as mãos imundas na minha cintura. Eu não tinha forças para reagir, mas minhas mãos ainda tentaram tapas em seus braços fortes. Ele segurou-me os cabelos e começou a beijar-me a boca. Era asqueroso, erótico, e os outros homens apenas observavam, imundos porcos rindo de mim. O homem que beijava-me soltou meu rosto por um instante e eu pude cuspir-lhe a face. Ele estrondou numa risada irônica:
-Vagabunda! Vais pagar por seres tão atrevida.
Então ele começou a bater em mim. Pontapés, socos, chutes... a cada batida, diminuía um pouco da dor em meu coração, era como se a dor física acalmasse a dor sentimental. Eles rasgaram meu vestido, bateram minha cabeça no chão, esmurraram-me os seios, as pernas, onde podiam. Chutaram-me o abdômen. Ouvi os estalos de minhas costelas. Urrei de dor. Pisaram em cima do meu útero. Eu sentia o sangue se acumulando dentro de mim. Eles bateram minha cabeça mais uma vez no chão. Não conseguia mais abrir a minha boca e gritar. Eu sentia o gosto do sangue inundando a minha boca, mas eu não conseguia cuspi-lo. Encheu minha boca, descia pela garganta. Não conseguia respirar. Os pulmões começaram a arder.
Eu quis sorrir. Talvez estivesse finalmente morrendo. Mas eles não deixariam por tão pouco. Alguém me deu uma tapa no rosto. Escutei mais um estalo e o sangue conseguiu sair da minha boca. Quis tossir, mas sabia que doeria mais nos meus pulmões. Tudo doía. Até viver doía. Quando se pede com toda sua alma para morrer, Deus te escuta. Mas ninguém entende mesmo o que Ele faz, então a única coisa que eu podia fazer era pedir com todas as minhas forças. Deus parecia não me escutar, por que eu ainda sentia dor, ainda respirava, mas eu pedia cada vez com mais intensidade para que Ele me deixasse morrer logo.
E num segundo, tudo pareceu mudar. Eu senti o vento frio da noite tocar minha pele e com ele veio o aroma. O aroma que me entorpeceu e fez minha cabeça girar. Era um perfume diferente de todos que eu havia sentido na vida. Uma mistura de masculinidade com leveza. Insuportavelmente acolhedor. Confesso-lhes: não consigo descrever a sensação nem o cheiro dele. Abri os olhos. Vi apenas o borrão vermelho do sangue. Pisquei e consegui distinguir formas. Os três homens que me espancavam estavam no meio da rua. Havia mais um estranho perto deles, o qual só conseguia distinguir a silhueta. Rezei para que não fosse mais um malvado e sim um anjo que viesse me levar. Pedi com as forças que ainda me restavam. Vi um clarão. Eu sentia uma emoção, talvez até alívio por ter alguém ali. É, acho que ainda tinha vontade de viver. Fechei meus olhos. Se não houvesse um salvador que me tirasse dali, havia um herói que me mataria. Eu estaria ganhando de qualquer modo. Escutei, sem o mínimo de compaixão, o grito dos homens. Era o sinal de que havia um salvador. Tive até vontade de sorrir. A promessa de justiça te faz querer viver quando se está numa situação difícil. O aroma encheu-me os pulmões mais uma vez e a última coisa que senti antes de desmaiar fora seu toque acariciando-me enquanto me carregava pelas ruas de Paris.

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Aqui você encontra alguns dos meus textos. Lugar onde sonhos são reais, amores são possiveis e a morte não pode nos deter. Sonhando e fazendo dos sonhos realidade!

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